Desenha em mim...


Dirijo meu olhar diariamente aos seus olhos. Gosto de contemplá-la, às vezes ao lado do seu José, às vezes segurando Seu amado filho e Senhor. Gosto de senti-la presente e não deixo de um único dia dirigir-lhe uma prece: “Desenha em mim os Teus traços, modela-me em Teu coração. E o que desfigura a beleza retira de mim com Tua mão. Eu quero ser qual Teu Menino, em Sua estatura crescer, quero ser todo Teu, minha Mãe, que quero em Teus braços viver”.
Ant. Marcos

Chorar com os que choram


A gente não tem respostas prontas pras perguntas que nascem da dor da alma. Ainda bem que Deus sabe lhe dar com as nossas insatisfações para com Ele. Sempre rezo pelo meu coração. Sempre faço uma prece para que o amor de Deus conquiste outra vez o coração dos que foram feridos pela dor e separação do amor humano. Também não sei o que dizer a um filho que chora a perda da mãe... Chorar com os que choram, talvez seja a resposta. Não deixar que as lágrimas apaguem a centelha da esperança que ainda fumega.
Ant. Marcos

Encontros..., e divisas...


Disseram-me um dia: “Amigo, estamos nadando na superficialidade dos pensamentos e nos arvorando do direito de dizer e escrever o que bem entendemos”. É óbvio, escreve-se o que pensa, mas se o pensamento está embebido de paixões tortuosas, essas linhas não edificarão, não construirão possibilidades, não marcarão ponto de encontro, mas de divisas. Palavras sábias as de Drummond: “Convive com teus poemas, antes de escrevê-los. Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam. (...) Cala-te, espera, decifra. As coisas talvez melhorem. São tão fortes as coisas!” (A Rosa do Povo, 1945).
Ant. Marcos

Janelas da amizade


Sim, janelas. Embora no meu quarto não tenha uma janela, aqui dentro de mim existem muitas... Sua rica simbologia nos remete ao que se espera, ao recomeço, à fenda pela qual entra o sol de um novo dia. Janelas porque dão para o horizonte, porque inspira liberdade, contemplação, diálogo, novas possibilidades. Janelas, também elas falam de amizade, também traduzem seu mistério. Afinal, os verdadeiros amigos abrem dentro de nós essas novas possibilidades, convidam-nos ao diálogo não olhando um para o outro simplesmente, mas, especialmente para Deus. Janelas, os amigos sabem abri-las dentro de nós, e isto é dom, é arte, é mistério, é amor partilhado na gratuidade e na verdade.
Ant. Marcos

A raiz mergulhada em Deus


Tenho sonhado quase todas as noites desses últimos dias com meu irmão Paulinho, falecido há cinco anos. Bateu-me uma saudade dele. Pensando na sua juventude, nos dias vigorosos interrompidos, coloquei-me em oração com tal mistério de dor e amor, de perda e encontro. Providencialmente achei uma frase nas linhas literárias de Adélia Prado que muito consolou meu coração e que fala também do mistério que é gestado aqui dentro: “É difícil morrer com vida, é difícil entender a vida; não amar a vida, impossível. Infinita vida que para continuar desaparece e toma outra forma e rebrota, árvore podada se abrindo, a raiz mergulhada em Deus”. 
Ant. Marcos

No mais íntimo...


Como é bom se deparar com a verdade de que “Deus nos conhece no mais íntimo do nosso ser” (Sl 138) e mais maravilhoso ver que não se utiliza disso para nos condenar, mas para nos salvar se assim O deixamos. Como diria Santo Agostinho: “Existe, porém, algo em mim que nem se quer meu espírito conhece. Mas tu, Senhor, que o criaste, tudo conheces. (...) E eu, mesmo sendo pó e cinza, sei de ti algo que não sei de mim” (Confissões Livro X,5,7). Por isso eu também “não posso temer a quem amo”, como não posso temer a quem conhece minhas fraquezas, mas me ama.
Ant. Marcos