Amigo, a que vieste?

É chegada a hora. O tempo de dormir e descansar chegou ao término. Jesus diz aos discípulos: “Eis que chegou a hora e o Filho do Homem é entregue nas mãos dos pecadores. Levantai-vos! Vamos! Aquele que me vai trair, já está chegando” (Mt 26, 44-46). O texto das Escrituras é muito claro: Jesus tinha consciência de que seria traído. A hora do pesadelo se aproximava. Não penso que essa consciência tenha sido algo pronto, embora Jesus fosse Deus, mas que sua intimidade com o Pai o preparou para os algozes, inclusive para as traições dos homens, daqueles a quem amava. Jesus não fugiu da dor, porque sabia que ela tem sua dimensão redentora. Geralmente a dor e a traição, o abandono, a covardia, as injustiças e as mentiras que sofremos nos abatem, especialmente quando elas provêm de quem não esperávamos. Jesus encontrou forças no silêncio com Deus, ainda que não tenha tido a vigilância dos seus amigos nas horas que mais precisou. Só a oração e a confiança na graça de Deus nos fazem ter a mesma decisão de Jesus: ficar de fé e seguir adiante. Enfrentar as nossas dores, viver a nossa “paixão”, na certeza de que ela nos levará à Páscoa! Não acredito que eu não possa viver isso! Mas acredito que se eu não rezar e não confiar, jamais terei condições de olhar nos olhos e dizer na hora da prova: amigo... 
Ant. Marcos – Domingo de Ramos 2011

Quem é este homem?

Quando Jesus entrou em Jerusalém a cidade inteira se agitou, e diziam: “Quem é este homem?” (Mt 21, 10). Confesso que isso me assustou, essa reação do povo. Uma cidade tão barulhenta, de peregrinação contínua, de grandes festas, de “messias”, por que a pergunta sobre Jesus? Confesso que também me assustei com sua ideia de entrar na cidade montado num jumentinho, que coisa ridícula! Caminhei ao lado deste homem, presenciei curas, milagres, ressurreições, fatos extraordinários e fiquei desconcertado diante de suas sábias palavras e da sabedoria com que se livrara tantas vezes de opositores. Agora, chegando aqui, querendo com ele a fama, esperando uma entrada gloriosa, ele me surpreende com sua decisão. As coisas começam a ficar confusas na minha cabeça, mas, pra minha surpresa, as pessoas o aclamam “bem aventurado aquele que vem em nome do Senhor!” Que estranho. Essa sua pobreza, essa maneira de viver o reinado parece mostrar uma força escondida e despertar anseios e desejos. Achei que conhecia aquele com quem partilhei noites e dias da minha existência e agora meu coração começa a perguntar também: “Quem é este homem?” Será mesmo que eu o conhecia? Mas estávamos juntos de Nazaré até aqui, será que fiquei tanto tempo ao lado de Jesus sem conhecer realmente sua identidade, seu coração, suas intenções? “Quem és tu, Senhor? Quem sou eu?” Para que nos trouxe a esta cidade? O que vai acontecer conosco? Estou com medo! Seja lá o que for eu só te peço uma coisa, Senhor: não deixe que eu volte atrás, ainda que eu te negue! Permita-me viver os teus mistérios! Eles me assustam, confesso, mas eu quero viver a tua páscoa, minha páscoa, quero te conhecer verdadeiramente, e se para isso tenho que passar pela Paixão e Morte, sustenta-me. Só Te peço isso: sustenta-me!
Ant. Marcos – Domingo de Ramos 2011