Quem pode entender?


Já dizia algumas linhas que li recentemente: “Acho que um dia a nossa ponte será reconstruída e quem sabe um dos dois atravesse para visitar o outro lado...” Tais linhas me levaram a pensar outra vez nas pontes que se desfazem impedindo assim que lugares e pessoas se encontrem, impedindo que o amor se realize e a felicidade se confraternize. Felizes os corações que ainda podem ter suas pontes reconstruídas, sem esquecer que, algumas vezes, a “esperança alimentada” para alguns contextos de nossas vidas, pode não corresponder a uma possibilidade com resultados satisfatórios. Como calcular o preço e os riscos das nossas esperas? Não sei! Tudo é tão pessoal. Tudo é tão delicado, intuitivo e perceptivo. Melhor que a sua maior parte seja fruto da maturação, ainda que a dor esteja presente. Só sei que há barcos que precisam ser queimados imediatamente após a travessia do rio de nossas incertezas e frustrações. Mas há barcos que precisam ser ancorados e devidamente amarrados, porque algo nos diz que precisaremos deles. Quem pode entender isto? Lembro agora as palavras de Shakespeare: “(...) Quando vi o oceano faminto avançar um dia sobre a areia da praia, para depois o selo firme vencer o terreno líquido, (...) aprendi que o tempo virá levar o meu amor”. Qual o nexo dessas palavras? Talvez que algum tipo de "violência" esteja por trás do amor que se vai, do amor que é roubado ou que fora separado por alguma ponte. Já diz a canção: “Só não há dor no amor que se separa quando ele vai até o fim”. Tudo bem, mas, se o selo firme volta a vencer o terreno líquido, por que não volta o amor? Quem pode entender? Aliás, quem pode entender estas minhas confusas linhas?
Ant. Marcos – abril 2011

...reaprendendo o que realmente tem valor!


Nesses dias tive a oportunidade de ver pela primeira vez minha linda sobrinha Ana Raissa de um mês de vida e tamanha foram a minha alegria e felicidade. Os pais a trouxeram à casa da avó e não escondiam a alegria em seus rostos. Quando a peguei nos braços, meio que desajeitado, fiquei a contemplar aquela beleza, aquele “pingo de gente”, de olhinhos fechados, toda vestidinha de roseo, fiquei encantado, apaixonado. Só abriu os olhinhos quando o flash da máquina disparou algumas vezes. Deveria estar pensando: “Meu Deus, que luz é esta?” Ou deveria imaginar que se tratasse daquele espaço especial de fama que se tem quando a gente é criança, inclusive, a melhor de todas as famas, porque se trata do amor dos familiares. Trata-se do amor dos que nos esperaram nascer. Como é bom ir ao encontro dos que nos esperam! É tanto que um beija, outra cheira, um aperta, todo mundo quer segurar, é a celebração da vida... E o tio aqui não perdeu a oportunidade, mas ela deve ter me dito: “Tio, num sabe nem me segurar!” (rs!). Perdão! O tio está reaprendendo a segurar com cuidado o que realmente tem valor! Será que ela entendeu? Eu penso que sim! (rs!) O fato é que todos nós, de alguma forma, sabemos da imensa alegria de se ter na família as crianças, escola de aprendizado e sinceridade, oportunidade de sairmos de nossa mesquinhez e fechamento, ocasião de renovação da esperança, porque cada criança é fruto do amor de Deus, é sinal da pureza, da inocência, da fragilidade, do poder do Criador; cada criança nos devolve a sensibilidade ao que é belo e nos faz ter saudade do céu, porque viver é caminhar para o céu; cada criança é um grito do amor de Deus a nos dizer: tens a oportunidade de recomeçar, de sair de si para os outros, porque a vida nunca pode perder a sua surpresa, a sua doação e seu misterioso desígnio e necessidade de voltarmos a ser como criança. Ana Raissa é para mim o melhor presente da Quaresma de 2011. Nos minutos que a olhava em meus braços tantas coisas se passavam em meus pensamentos. Em segundos se deu o “flash de minha vida!” Quanto desejo de ser melhor, de ser um homem de Deus, de amar e servir mais às pessoas, de ter uma fé inabalável. Mesmo assim, obrigado Senhor, pelo dom de minha vida até aqui, pela incomparável oportunidade de tê-Lo encontrado, mesmo que meu coração ainda não seja como o de Ana Raissa, “coração de criança”. Vê-la me renovou a urgente necessidade de conversão e de perseguir cada dia a Tua santa vontade. Obrigado, Senhor, pela linda Ana Raissa em meus braços, sinal da Tua presença na minha vida. Do mesmo jeito que me colocas nos teus braços confortáveis, nos quais durmo tranquilo, ensina-me a fazer da minha vida um lugar de descanso para os outros, ainda que “meio desajeitado”, mas sem nunca perder a oportunidade e a coragem de favorecer o encontro entre os que passam na minha vida com os Teus braços de Pai.
Ant. Marcos – Quaresma 2011