Vocacionados...


A Primeira Leitura da Festa do Apóstolo São Barnabé, 11 de junho, retirada de Atos dos Apóstolos 11, 21b-26; 13,1-3, fala do início da missão evangelizadora deste Apóstolo juntamente com Paulo a partir do momento em que foram separados por inspiração do Espírito Santo.  Acontece que este fato se deu – o que me chamou a atenção – quando todos estavam reunidos a “celebrar a liturgia, em honra do Senhor, e a jejuar”. Foi então que disse o Espírito Santo: “Separai para mim Barnabé e Saulo, a fim de fazerem o trabalho para o qual eu os chamei”. Ora, vejamos como isso é interessante para o contexto atual no tocante ao discernimento de uma vocação ou missão na Igreja. Vejo jovens e adultos cristãos católicos preocupados com a vocação pessoal, o que é salutar e necessário, afinal, Deus nos criou vocacionados para um desígnio já presente em nós, mas que também será despertado no tempo devido como proposta e convite, para que assim exerçamos nossa liberdade como filhos de Deus. Pois bem, o que se observa próximo a nós é um deslocamento, ou desorientação, acerca do centro de atração, do segredo para que o desígnio de Deus tome forma e expressão em nós sem que seja habilidade simplesmente humana, o que só termina em frustração, em obra inacabada. Falo evidentemente da necessidade de se priorizar acima de qualquer coisa o “estar junto aos outros a celebrar os mistérios de Cristo, a viver a vida cristã pessoal e comunitária e caminhar nas vias de santificação nos propostas pela Igreja”. Não faltam jovens que querem tanto “seguir o Senhor”, mas não entendem que tudo começa quando a Eucaristia é o centro da vida, quando a vida da Igreja, sua dinâmica e mistério, é prioridade para nós. Isto significa que devemos ser “separados para a missão” a partir da vida da Igreja, que deve refletir a vida de Cristo, e não por outras motivações. Rezo para que as novas vocações sejam realmente “a partir da Igreja, na Igreja e para a Igreja”. Na Solenidade de Pentecostes, confesso, esta é a minha súplica: Espírito Santo, que as vidas conquistadas e separadas por Ti para a missão possam seguir a Jesus porque O viram ressuscitado na Comunidade e não por quererem projeção, reconhecimentos, satisfações egoístas e interesses pessoais. S. Barnabé e S. Paulo intercedam pelos vocacionados ao seguimento de Jesus.
Ant. Marcos

Não sei explicar...


Não me perguntem. Não sei explicar essa compulsão pela esperança, ainda que tenha me feito companhia na alma quase que como amigos sem sono em terraços noturnos a tão amada “donzela do pai seráfico”, a pobreza da alma, o desalento. Não me perguntem. Não sei explicar o sorriso apesar das agruras, o sentar para brincar com os pedacinhos do brinquedo espalhados pelo chão... Não me perguntem. Não sei explicar, eu estou feliz porque aprendo a prova das palavras, o preço das convicções, a força da fé e a linguagem da noite em que existe muito barulho, uma fogueira que aquece do frio desesperador, uma sentença, o medo, um amor não sustentado. Não me perguntem a compulsão e as razões para permanecer esperando aquele olhar, aquele olhar somente, porque mesmo aparentemente separados, permanecem unidos no coração... Não me perguntem...
Ant. Marcos

...mesmo de noite


“Cantar da alma que goza por conhecer a Deus pela fé”
Que sei bem eu a fonte que mana e corre
mesmo de noite.
Aquela eterna fonte está escondida,
mas eu sei bem onde tem sua guarida,
mesmo de noite.
Sua origem não a sei, pois não a tem,
mas sei que toda origem dela vem,
mesmo de noite.
Sei que não pode haver coisa tão bela,
e que os céus e a terra bebem dela,
mesmo de noite.
Eu sei que nela o fundo não se pode achar,
e que ninguém pode nela a vau passar,
mesmo de noite.
Sua claridade nunca é obscurecida,
e sei que toda luz dela é nascida,
mesmo de noite.
Sei que tão cautelosas são suas correntes,
que céus e infernos regam, e as gentes,
mesmo de noite.
A corrente que desta vem
é forte e poderosa, eu o sei bem,
mesmo de noite.
A corrente que destas duas procede,
sei que nenhuma delas procede,
mesmo de noite.
Aquela eterna fonte está escondida,
beste pão vivo para dar-nos vida,
mesmo de noite.
De lá está chamando as criaturas,
que nela se saciam às escuras,
porque é de noite.
Aquela viva fonte que desejo,
neste pão de vida já a vejo,
mesmo de noite.
Fonte: “Poema da Fonte”, São João da Cruz, Doutor Místico da Igreja.