Perguntar por alguém...

Perguntar por alguém é sempre um gesto muito significativo, desde que seja porque amamos este alguém ou simplesmente por querer-lhe bem. Tem gente que desaparece, que passa de nossas vidas, e devem mesmo passar. Tem gente que desaparece e nos faz tanta falta. São pessoas que se vão para longe, seguem suas vias, seus planos, ideais, escolhas e convicções, mas ainda assim não deixam de viver aqui dentro de nós. É um amigo, um irmão, um amor... é o mistério do que se deixa numa vida, ainda que a convivência tenha sido breve. A intensidade e autenticidade da vida partilhada é o que imprime um caráter indelével de significado daquela vida para nós, independente de suas fraquezas e infidelidades, ainda que deixem de nos amar, ainda que nos esqueçam. A nossa gratidão por alguém, uma vez viva dentro de nós, já não depende mais de condições exteriores, perdura para sempre. Perguntar por alguém é apenas uma das formas que “a memória do amor” se utiliza para dizer que sente falta de vidas que fizeram diferença dentro de nós. E hoje eu perguntei a uma pessoa por alguém... Fui tão consolado por sua resposta! E aí eu também pensei: acredito que quando estou distante de Deus, deva ele perguntar muito por mim a todos, não que não saiba onde eu esteja, mas porque deseja que os que me amam saibam me comunicar que Deus está com saudade de mim. 
Ant. Marcos

Somente hoje...



A segunda opção da 1ª Leitura deste último dia do mês de maio, Festa da Visitação de Nossa Senhora, é tirada de Rm 12, 9-16b, um texto de incomparável riqueza ao falar do amor fraterno, da afeição que devemos ter uns para com os outros e do exercício daquelas virtudes que não podem faltar na fraternidade: a atenção, o zelo, a hospitalidade, a oração (inclusive pelos que nos perseguem), o dom de se alegrar com os que se alegram e de chorar com os que choram. E a vivência desses valores não obedece a fronteiras. Se o sofrimento da pessoa humana onde quer que ela esteja nos atinge, muito mais os que pertencem a nós pelos vínculos do amor fraterno. Da mesma forma aqueles que nos perseguem, necessariamente não precisam estar na convivência, o mal também tem suas teias, infelizmente. Mas quero mesmo é falar deste amor ao próximo de que nos motiva e nos capacita a Palavra de Deus. O amor fraterno comporta a necessidade de ser vivido de forma radical no hoje, na brevidade que se chama “agora”. As linhas de Santa Teresinha muito falam por nós: “Para amar-Te, ó meu Deus, saber que neste mundo, só tenho hoje, somente hoje”. Maria corre às pressas, quer partilhar as graças de Deus com sua prima Isabel. Nada é nosso, tudo é graça de Deus! E somos devedores do amor aos outros! Isabel acolhe Maria, dá-lhe hospitalidade, e juntas celebram as maravilhas de Deus. O amor partilhado é “epifania”, Deus presente no hoje da vida do outro.
Ant. Marcos

Vivendo muito ou vivendo pouco...


A notícia do falecimento por atropelamento das duas irmãs da CA Shalom de Natal, no último sábado, 28 de maio, foi mesmo uma dor não somente para aquela Missão, mas para todo o corpo da Comunidade, para aqueles que amam a Vocação Shalom. A notícia da morte dos que conhecemos e amamos é sempre algo difícil de encarar. Aceitar é preciso, mas não é possível sem dor, sem lágrimas, sem algumas perguntas e sem aquele silêncio que nos faz pensar também na brevidade da nossa vida, na “surpresa” com que chega a partida para junto do Pai. Soube por mensagem telefônica na tarde do Domingo através de minha amiga Ollga (CA de Natal). Inclusive, eram suas irmãs de Célula, ou seja, daquele pequeno núcleo que se reúne toda semana para rezar e viver a formação do Carisma, uma célula da grande família, uma experiência de convivência fraterna e de amizade. Os membros da Célula de Gorete e Marluce, depois de suas famílias biológicas e amigos íntimos, certamente, são os mais sofridos, porque estavam mais perto na vivência das dores e alegrias de suas irmãs. Tão logo soube me pus a rezar pelo consolo de todos os que as amavam e a pedir que Deus conceda-lhes o céu. É para o céu que queremos ir, vivendo muito ou vivendo pouco. “Seja-nos tirado tudo, Senhor, mas não permita que morramos longe do teu amor, porque o teu amor em nós já é, podemos assim dizer, a antecipação do céu”. A luz da fé e a Eucaristia não operam isso nas nossas vidas? Sim! E que mistério: nossas irmãs tinham acabado de sair da Santa Missa e provavelmente tinham recebido o Corpo e o Sangue de Jesus.  Diz o Senhor: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,54-55). Estava neste dia lendo e rezando com a monografia que traz o tema “A Ressurreição de Cristo” do amigo Diácono Paulo André, Consagrado na CV Shalom, falecido em 2004 em acidente de ônibus quando voltava de Aracaju, e um trecho do texto diz: “A vida humana encontra pleno sentido quando alcançada pela luz do Ressuscitado”. Nós cremos que as vidas de nossas irmãs foram alcançadas por esta luz, e por isso rezamos para que esta mesma luz as introduza na claridade definitiva, no esplendor e gozo indecifrável do rosto de Deus: “É a tua face, Senhor, que procuramos!” (Sl 27,8). 
Ant. Marcos – 30 de maio de 2011