Não mais Te pedindo tantas coisas...


Um trecho do livro Jesus de Nazaré (Parte I, cap. 5) me deixou intrigado, pensativo e me levou à oração e meditação, a um diálogo prolongado com Deus. O Papa Bento XVI está discorrendo sobre a Oração do Senhor, especificamente “E não deixeis cair em tentação”, quando, citando Jó, diz que “o homem precisa de provação, para realmente encontrar uma piedade numa sempre mais fundamentada comunhão de ser com a vontade de Deus. Tal como o sumo de uma uva deve fermentar para se tornar um vinho generoso, do mesmo modo o homem precisa de purificações, de transformações, que são perigosas para ele, nas quais pode cair, mas que também são caminhos indispensáveis para chegar a si mesmo e a Deus”. Não, o papa não está falando de amor ao sofrimento, isso não seria a fé cristã. O papa está falando da “purificação do amor”, exatamente porque este amor em nós pode tomar outros rumos e até se tornar irreconhecível. “O amor é um processo de purificações, de transformações...” E cita uma frase de São Francisco Xavier, dita a Deus em oração: “Eu amo-te não porque tu tens o céu ou a terra para dar, mas simplesmente porque tu és meu rei e meu Deus”. Chegar a esta confissão no mais profundo da vida, certamente implicou um caminho de purificações, um caminho de maturação. O que eu posso “ter e receber ou o que eu tinha e perdi”, não é o mais importante, inclusive se o perigo da provação implicou nossa queda, não por ela em si, é claro, mas por causa da nossa liberdade. O mais importante é recomeçar e perseguir essa maturação, pois, ainda que tenhamos fraquejado não quer dizer que Deus tenha nos abandonado com seus favores, mas que misteriosamente deseja que aprendamos definitivamente que o que nos destrói é mesmo o nosso orgulho, não a provação ou mesmo a queda. Seja o que for que me tenha sido tirado, que nunca seja eu afastado da fé e da piedade, do amor a Deus e da certeza de que Ele cuida de mim, ainda que tudo me pareça confusão interior. Sua misericórdia nos reconstrói, porque Deus nunca pode nos querer destruir. E é claro que queremos a terra, porque é bom viver, e queremos o céu, porque é a nossa morada definitiva, a vida feliz por excelência na presença de Deus, mas se não chegamos à experiência de nos sentirmos amados por Deus e respondermos a este amor com liberdade, não obstante nossas fraquezas, tudo isso se torna realidade inatingível para nós, porque passamos a achar que é troca de favores. O amor é um processo de purificações... Tudo o que mais preciso, Senhor, é que não venha eu a te perder de vista na hora da prova, porque Tua fidelidade excede a minha infidelidade. Ajuda-me a encontrar sempre um caminho de saída que dê exatamente na direção do Teu coração, o refúgio na hora da prova e sempre. Teu coração: nossa terra e nosso céu. Reaprendo hoje a "Te amar não mais te pedindo tantas coisas”, mas desejando e pedindo que sejas Senhor da minha vida.
Ant. Marcos

Atraídos pelo bem...


Nossos espaços na mídia dizem muito sobre nós, desde que sejamos sinceros, embora haja sempre a inevitável necessidade de sermos prudentes com aquilo que é público. Afinal, gente pra fazer o mal é o que não falta, infelizmente, sobra até! Mas quero dizer que muita gente se aproxima, ainda que com curiosidade, para descobrir o que de bom existe em nós e o faz atrair, o que às vezes nem mesmo percebemos. Essas pessoas acabam enxergando valores em nós que as edificam. E se aproximam, querem simplesmente ter acesso ao nosso coração, sonhos, alegrias, desejos... Elas querem a Deus, querem a felicidade! Esta aproximação nem sempre é possível pela convivência, o que não quer dizer que não haja uma identificação com o outro e uma correspondência de sentimentos e valores que nos unem. Dentro do dom do amor fraterno e da fé vivemos a comunhão dos santos. Quem faz o bem tem o seu coração como um imã, atrai o que é bom. Mas, misteriosamente, muitas vezes o Mal também é atraído, porque as pessoas seduzidas pelo Mal não tiveram aniquiladas o desejo mais íntimo da luz, da verdade, do amor de Deus. Tem gente que chega querendo mudar, querendo também ver a luz que nos ilumina. Tem gente que chega simplesmente como lobo quando chega à pastagem: entra devagar e espera o momento certo de destruir e matar. Não podemos fazer acepção de pessoas, a gente apenas usa os critérios acessíveis dos próprios valores que contornam nossas opções e ações. O bem em nós tem necessidade de comungar com o bem do outro. Bem sabemos que o joio e o trigo crescem juntos e, de início, nem sempre é fácil de identificar. A convivência é para nós o que é o tempo da espera para o agricultor. O bem e o mal crescem com características bem distinguíveis. Isto fica claro na hora da colheita! As adversidades, as contradições, a dor, o sofrimento, o fracasso, as quedas, tudo isso é o momento que remexe a terra, é a nossa hora da colheita. Necessário é fazer novas opções! Não ter medo de “romper laços” que não nos edificam, que não comungam com nossos valores e sonhos é necessário. Ou mesmo ter a coragem de continuar o nosso caminho, ainda que sozinhos. Necessário ainda é não ter medo de esperar o tempo de Deus e não o tempo de quem acha que tem “o tempo certo” para nós, simplesmente porque diz respeito aos seus interesses. A felicidade é uma comunhão de vontade entre Deus e o homem. Também é assim na odisseia das relações humanas. Não falo de uniformidade de vontade, mas de identificação com o outro, comunhão de vida e coração, o que permite duas vontades opostas conjugarem harmonia, um querendo que o outro seja feliz sem deixar de ser quem somos. Então, que cheguem e sejam bem vindos os que são atraídos pelo bem em mim. Tamanha é a minha responsabilidade: devo lhes dar o Bem, que é Deus mesmo! E, quando não dou, sou o primeiro a agir como o lobo. Não dar Deus às pessoas é a nossa própria destruição!
Ant. Marcos   

Amigo, reze pelos meus...

Cada um de nós tem, de alguma forma, um espinho que dói em nossa carne e alma dentro da família. Falo dos desafios que nos sobrevêm da própria condição humana, do que lhe é inerente por ser falível e fadada aos condicionamentos da educação, mas também das experiências pessoais, dos desafios, dos erros, perdas e sofrimentos, do ambiente, da condição social, da história, embora não se deva transformar tudo isso num determinismo de vida, muito menos conformismo. O fato é que “choramos por nós e por nossos filhos”, choramos pelos nossos parentes, pelos que amamos e estamos ligados pelos laços sanguíneos e de amor, como pediu Jesus às mulheres, quando por Ele derramavam lágrimas de sofrimento no caminho, enquanto carregava a pesada cruz e era vítima dos açoites dos bárbaros soldados romanos. As palavras de Jesus são sempre muito simples e ao mesmo tempo muito profundas. Jesus sabia perfeitamente a dor do coração de sua querida Mãe ao vê-Lo naquele mar de violência e sangue. Jesus experimentou – segundo os biblistas – a dor da perda de seu pai adotivo, como também chorou por seu amigo Lázaro e pelos seus irmãos Israelitas, diz a Palavra de Deus. Jesus era verdadeiramente Deus e Homem. Amou e sofreu. Pois bem, quando os nossos sofrem a gente também sofre. Quem de nós nunca disse para Deus: “Senhor, dê felicidade aos meus, ainda que eu seja infeliz?” São momentos de angústia e conflitantes, especialmente quando nos encontramos na busca do que é santo e digno, mas não temos como evitar que nós mesmos, nossa família e amigos sejamos privados da dor. Ela é tão misteriosa quanto à vida. A única coisa que sabemos é que a vida triunfará e não haverá mais choro e dor. Ajude-nos, Senhor, a não nos perdermos no emaranhado das situações aparentemente sem saída. A Tua luz é a nossa luz! Não queremos entender tudo, queremos estar contigo na hora da alegria e da adversidade. Tudo passa, diria Santa Teresa de Ávila. Queremos ser homens e mulheres de fé. Escrevo isto rezando e pensando nos meus, mas também pensando naqueles que me disseram nesses dias: amigo, reze pelos meus, reze por mim!
Ant. Marcos 

Deseje ao outro uma feliz vida...



Deseje ao outro uma feliz vida, ainda que dele não seja tão próximo. A caridade de Cristo o faz ser teu próximo. Deseje ao outro uma feliz vida, porque a vida é um dom, e quando ela se faz partilha acaba sendo parte de nós, edificando-nos. Deseje ao outro uma feliz vida, porque a felicidade tem um rosto, tem um nome: o Deus Vivente, autor da vida! Deseje ao outro uma feliz vida como forma de gratidão em reconhecer que muitos são bem mais felizes no contato com esta pessoa, então o somos também pela Comunhão dos Santos, porque as sementes do amor e do bem, da verdade e da luz criam raízes e alcançam outras terras, e essas também germinam. Quando a vida se faz "semente partilhada", podemos contemplar as árvores, desfrutar das sombras! Deseje ao outro um Feliz aniversário! Deseje ao outro a própria vida de Deus!

Ant. Marcos

Vamos nos aquecer juntos...

Uma linda imagem da natureza viva que simboliza a necessidade de estar junto, mesmo nas diferenças... O coração precisa dizer: vence o teu medo, tuas prisões, tuas desconfianças! Então, chega pra cá, aperta um pouquinho, vamos nos aquecer juntos nesta vida que tantas vezes respira frieza humana! É assim, essas lindas criaturas deixam um recado bonito para nós, especialmente quando evitamos aprender com o diferente. A diferença não pode ser vista como ameaça, pois ela tem a sua particularidade, sua escola e sabedoria, beleza e naturalidade, sua marca divina. Que isto aconteça a partir de nós, a partir dos que estão na convivência familiar e na fraternidade... Rezar e conviver, conviver e amar, amar e acolher, acolher e viver, que tudo seja rima existencial. Vamos juntar nossas vidas, vamos dar sombra, abrigo, construir mais, destruir menos os outros, aquecê-los ainda que um dia tenham roubado nossos cobertores... Vamos amar, pois ele é calor, calor que aquece e faz crescer, que gera vida e perdão, recomeços e esperança! Vem, chega mais perto...

 Ant. Marcos