Mais que raízes...


Outro dia me encontrei a viver o prazer de uma boa literatura, no caso, fazia-me companhia a amiga Adélia Prado. De repente me deparei com esta expressão: “Quero o que antes da vida foi o profundo sono das espécies, a graça de um estado. Somente. Muito mais que raízes” (Poesia Reunida, 1991). Não sei traduzir estas palavras, mas sei o que elas significam aqui dentro de mim, o que provocaram em mim naquele exato momento e por dias, aliás, até hoje. Desejar a “graça de um estado”, mais que raízes, não é profundo? Mas, aqui entre nós: não falamos tanto das raízes? Não é verdade que elas já dizem tanto? Sim, sem dúvida! Mas entendi - ou acho que sim, pra não ser pretensioso - o que a poeta quis comunicar. Na verdade, ela já falava a partir de um estado, o desejo. Bem, eu só sei que tenho rezado tanto ultimamente com esta expressão, me dirigindo assim a Deus: Senhor, a graça de um estado, mais que raízes, é o que mais necessito. Ajuda-me! Hoje eu me lembrei desta expressão, associei-a ao “estado de páscoa” que sou chamado a viver, e fiquei feliz, muito feliz. Talvez seja isso o que realmente preciso viver e cultivar, o que não é simplesmente “um tempo litúrgico”, e que é mais que raízes: a graça de um estado, o estado de páscoa! Obrigado meu bom Deus! O desejo, ah, o desejo... mais que raízes!
Ant. Marcos

O mal dá fome, o bem sacia!


O bem sacia o nosso desejo de amar, compensa de forma satisfatória os nossos desejos. O mal e a mentira têm, sem dúvida, a sua satisfação, mas não realiza, não unifica, não faz crescer, não liberta os outros e nem a nós mesmos. O mal nos deixa radicalmente presos por submissão a quem praticamos. Se não há uma contra-reação de quem sofre o mal praticado, se não há uma vingança, mas uma resposta de bem, o desespero do coração de quem pratica o mal é ainda mais desconcertante, desesperador, ainda que exteriormente sua consciência pareça descansar em sua sonolência e no falso prazer de que se saiu ganhando. Omal dá fome, o bem sacia! A verdade radical é a de que o bem vence sempre, e esta vitória é plena não quando necessariamente é visível, perceptível exteriormente, mas quando a consciência é salvaguardada pela pureza da verdade, e a Verdade é uma Pessoa, Jesus Cristo, não uma “expressão barata” para decorar e dar aparência.  É esta Verdade que continuamente escuta a oração do Publicado, que não ousa levantar a cabeça, mas sai reconciliado com Deus, consigo mesmo, com o outro, sai, na verdade, livre.
Ant. Marcos