Aquietar o coração, buscar a confissão e me recolher no silêncio interior...

"Jerusalém" está agitada, mas eu preciso aquietar o coração, buscar a confissão e me recolher no silêncio interior. Vai começar a celebração do Mistério dos mistérios. Dias e horas com fatos que se chocam com minha maneira de viver a oblação, com minha mesquinha forma de amar, de me dar aos outros. Fato e mistério que me desconcertam, mas que me atraem fascinado a este amor que não tem limite, que ama ao extremo de se aniquilar por mim. Fatos tão atuais, mistério tão palpável, quer no sentar à mesa com o Senhor, no reclinar da cabeça sobre o seu peito, quer no medo de segui-lo, na fuga e na traição quando assumi-Lo implica comprometer o que chamo de "meus planos". Amigo Jesus, amigo Jesus... Se eu te perder, se eu fugir outra vez, se seu te negar, conceda-me a graça de voltar sempre e leve-me aos pés da cruz, ajude-me a Te olhar e chorar o meu arrependimento. Esses dias serão "conflituosos", nos quais a fé será provada, o amor purificado. Porém, dias de Salvação. Sustente-me, Jesus, para que a Tua Páscoa não se torne dentro de mim simplesmente doutrina, verdades conhecidas apenas, mas Páscoa acreditada, vivida e celebrada. Páscoa testemunhada!

Ant. Marcos

"Memória feminina", memória de amor...

Costumamos falar da "memória feminina", ou seja, muito mais que uma sensibilidade ao simples ato do lembrar as coisas, pessoas e situações, mas aquela profunda conexão que elas, as mulheres, fazem entre coração e ação, corpo, mente e alma. Por isso, quando amam, nunca fazem em pedaços, mas por inteiras. Quando "se decepcionam com alguém", quando se sentem feridas, tudo é tão dolorido, porque tão interno, tão existencial, tão palpável... Na manifestação da dor ou da alegria, tudo é vivido com todo o ser, intensamente. Daí que quando usam a "memória feminina" para evidenciar o "óbvio", o que para elas já é esperado pelo coração, não estão procurando evidência, mas celebração do detalhe, do cuidado, do amor, da gentileza, do respeito, da fidelidade, da amizade, do amor partilhado e celebrado. Esta "memória feminina" tem mesmo a ver com a natureza de Deus, pelo menos na sua dimensão mais positiva: "O Senhor se lembra sempre da aliança!", reza o Salmista (104/105). Não sei exatamente o porquê desta relação que acabo de fazer, mas creio que Deus deseja que não esqueçamos que sua memória de amor vê o detalhe, por isso Ele cuida de nós na dor e na alegria, no ontem, no hoje e no amanhã. "Memória feminina", memória de amor, amor humano, amor divino, amor de salvação.

Ant. Marcos

Partilhas: Viagem existencial...

Outro dia um amigo querido me escreveu a seguinte frase: "Amigo, sempre filosofando ou quem sabe viajando no tempo...". De fato, faço os dois, "filosofo e viajo", mas o faço acrescido da fé. Não escrevo, pois, infelizmente não tenho este dom, não desenvolvi o talento e a arte da língua escrita, apenas "viajo" para dentro de mim e tento partilhar, traduzir os meus processos interiores. A surpresa é que a gente acaba se deparando com a "viagem" de outros corações. Não os vejo fora de si, alienados, desencarnados... Vejo vidas contextualizadas, vejo lágrimas e alegrias, mas vejo sobretudo o lapidar da esperança. Se "filosofo de verdade", isto me alegra porque a filosofia é inquietante, arranca-nos da sonolência do mesmismo interior e do que nos cerca. Aos poucos - como dizia o poeta Renato - vamos assimilando o que é Ética e o que é o Éter. Se filosofo, então penso como fazer isto na base da fé. Não quero simplesmente "entender", ou me mostrar sábio, mas o que quero mesmo é crer esperando. A fé é também uma viagem quando provoca partidas e chegadas, alegrias e crises. Ela faz um caminho de volta, de volta não ao ocaso da alma, mas ao nosso interior, à nossa própria consciência, ao nosso coração. Bem, desculpem-me minhas "viagens", minhas "filosofias". Apenas compreendo que uma partilha não é uma obra literária, mas uma das formas do coração viver a viagem da fé, "a viagem existencial". E a fé é um dom, e sua linguagem é a simplicidade.

Ant. Marcos