Cada dia para mim é o mais importante...


Cada tempo de minha vida, cada dia, cada instante se faz de intensas procuras e insatisfações, ou, melhor dizendo, de inquietações salvíficas. Os dias de hoje já não são os de ontem, nem mesmo as pessoas com quem me relaciono hoje são, em sua totalidade, as mesmas de ontem. O tempo passa, as pessoas seguem o curso de suas procuras, escolhas e realizações... A vida dá prosseguimento fora e, principalmente, dentro de mim. O fato é que não tenho motivos para reclamar da vida ou culpabilizar contextos e os outros. Tenho, na verdade, que continuar a trabalhar minhas trevas sem me autosufocar por acusações. Idiotice se martirizar pela minha condição de criaturalidade. Importa que não venha eu a me acostumar com as trevas e me deixar subjugar pelas quedas.

Penso que nada disso é mais difícil do que a realidade desafiante da convivência. A alteridade é caminho de transformação e sentido, porque as relações humanas sadias qualificam a vida, enobrecem os atos, dignificam os sonhos e estimulam os ideais. A gente passa a desejar tudo aquilo de bom que existe nos outros. Porém, é verdade que o caminho para essa alteridade é um caminho pascal. Nos dias de ontem a minha vida se encontrava numa direção e me veio as mudanças radicais, o que não são fatos acidentais, mas "encontros e desencontros", "chegadas e partidas" do coração e das razões. É muito bom sentir a resistência do coração para não se deixar vencer pelas vicissitudes da vida, mas permitir sempre se vislumbrar com as novidades de um amor que está para além de nós mesmos e de nossas razões, escolhas, amores ou desamores.

Às vezes não temos a real noção do quanto nossa vida está ligada a outras vidas e o quanto esta nossa vida comunica valores e sentido que acabam sendo luz, descanso e abrigo. Uma vez provado do que realmente me fez e me faz feliz, já não posso negar esse amor. Não importa se as novas decisões contrariem os nossos desejos - ainda que essas decisões se apresentem como contextos incompreensíveis -, importa que aquele núcleo interior continue sendo a fonte do sentir, do mover, do querer, do doar e recomeçar, ou seja, falo do amor a Deus, a si mesmo e à vida. Falo da fé, da esperança e da consciência cristã que  me lança na responsabilidade de construir este mundo à medida em que o Bem, a Ética e a Justiça são valores irrenunciáveis na minha vida.

Confesso que corro atrás do que acredito, como “persigo os ideais que prego”, mas não quero jamais deixar de lembrar que cada dia para mim é o mais importante. A salvação é hoje, a vida é hoje, o recomeço é hoje, a continuidade desta felicidade palpável é hoje, não importa o ontem e o amanhã. E, claro, aprendo isto também dentro do mistério da alteridade. O outro é mesmo uma completude, uma presença e apoio que me ajuda a continuar. Aliás, vem do grande Outro, o Deus-Amor, o sentido de cada dia. Isto não é poesia, é fé. Por isso creio, desejo e decido viver! Deus me conceda a graça.

Marcos - 09 de agosto de 2012
Memória de Santa Edith Stein

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