Tempo pra ficar sozinho e escrever cartas...


O ato de se sentar para rabiscar o papel como forma de conversa, para Fernanda Meireles, escrevinhadora incansável de cartas, é todo ele um ato de amor - em especial nos dias de hoje, quando e-mails e redes sociais suprem a comunicação de maneira imediata. “O tempo para escrever cartas é diferente. O tempo é outro. Existe a doação da escrita sem a certeza da resposta”, aponta a Fernanda. E propagandeia: “Quando a gente escreve uma carta, a gente conversa consigo e com o outro. E experimenta dizer as coisas de uma maneira impossível de ser dita à presença física da pessoa”.
O filósofo francês André-Comte Sponville, no ensaio A Correspondência, talvez resuma o charme da palavra manuscrita endereçada a outra pessoa: “Por que escrever quando se pode falar-se, quando se fala efetivamente? Porque nem sempre se pode falar, nem de tudo, porque a fala pode criar obstáculo para a comunicação, por vezes, ou condená-la à tagarelice, porque é preciso ter tempo de ficar sozinho, porque é doce pensar no outro em sua ausência, ainda que se deva vê-lo no dia seguinte, dizer-lhe o lugar que ocupa em nossa vida, mesmo quando ele não está presente, em nosso coração, em nossa solidão”.
Fonte: Publicado no Jornal O Povo (Fortaleza), Domingo, 12 de junho de 2011.

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