Refletindo minhas barbáries...


Acho que há tempos não chorava tanto como no último dia 07 de abril, ao me deparar com aquelas imagens de dor e sofrimento das famílias, diante da notícia de que seus lindos e pequenos filhos foram brutalmente e covardemente assassinados dentro da Escola, lugar para o qual se vai para aprender a crescer como pessoas, como cidadãos, colaboradores da paz e do progresso, como homens e mulheres que futuramente terão a alegria de contarem aos filhos que estudar e aprender são muito mais que decorar para fazer avaliações. É lá que se dá a principal continuidade do exercício da descoberta e do aprendizado, inclusive com os outros que não são nossos familiares, mas são irmãos, são próximos, são coleguinhas que estão ali para crescerem juntos conosco. Entram cada dia na escola cheios de esperança, curiosidades, expectativas, e esperam sair delas, no final da aula, mais amadurecidos, crescidos depois de nova pequena jornada de novas experiências, o que vai se repetir ainda por anos. Uma coisa deve sempre estar na cabeça de um aluno ao entrar na escola: as pessoas aqui estão querendo unicamente o meu bem, a minha proteção, o meu sucesso e felicidade. Jamais ele espera que aquele ambiente seja o palco de preconceito, de rejeição, de exclusão, muito menos de violência. Ele deve ainda ter consciência e a certeza de que tem vez e voz como aluno, por menor que seja, por mais diferente que se mostre, sempre merecerá respeito. Nem sempre age como gostaria e sabe que o professor precisa chamá-lo a atenção com diálogo e caridade e, se preciso for, chamá-lo depois para uma breve conversa de motivação para se aproximar mais daquele coração e mente que podem estar escondendo algumas dores, alguns já desencontros na sua vida que ainda está nos primeiros anos. Quando somos alunos - como criança, jovem ou adulto - sabemos como é bom chegar a hora do toque final e irmos para casa. Daí que nunca esperamos que a aula seja interrompida de forma trágica. Nunca se espera que uma criança ou adolescente tenha que fazer de sua carteira ou sala de aula um escudo de proteção como se fosse um bandido. A sala de aula como um palco do terror é impensável, inadmissível. Morrer dentro dela foge a toda lógica racional. É duro demais depararmo-nos com isso! Contemplando a vida de minha linda e pequena sobrinha, Ana Raissa, lembrava aquelas vidas e sonhos interrompidos tão cedo. Sobra perplexidade e faltam razões objetivas para justificar tamanha monstruosidade. Perdão, Senhor, se essas linhas sejam “um remoer desnecessário”, não é isso, apenas como pessoa humana e cristão, como professor de filosofia e aluno de teologia, reflito o impacto desta tragédia dentro de mim, pois levaram-me a muitas reflexões sobre a vida, o sentido de nossas ações, nossas enfermidades escondidas, nossas mentes doentes; sobre a falta de perdão, a vingança, a incapacidade de administrar as perdas e as ofensas, como também sobre a nossa relação com a religião, com o sagrado, com os valores que devem ser citados para fazer o bem e não para justificar a tragédia. Tenho refletido sobre essa invocação a Deus que fazemos, inclusive, “o pedido de perdão enquanto matamos”, e ainda essa falsa concepção de que "encontramos a verdade", mas continuamos a caluniar e destruir os outros, tudo tão friamente, tudo tão “religiosamente”. Refleti minhas barbáries, quando também “matei os outros” com minhas mentiras e omissões, com minha infidelidade a Deus e aos meus propósitos, quando as pessoas ao participarem de minha vida não encontraram espaço e apoio para crescerem e serem ajudadas na cura de “suas doenças”, e foram assim almejadas em suas sensibilidades e confiança. Há tantas formas de barbáries, as veladas nem sempre doem menos. Elas também nos fazem chorar e sofrer, porque também matam. No entanto, sei muito bem podemos extrair delas lições que sirvam pra vida toda. A tragédia nunca pode ser justificada, mas nem por isso ela deixa de ser uma oportunidade pra gente refletir e ser melhor.
Ant. Marcos – abril de 2011 (Quaresma).

Um comentário:

  1. Dificil mesmo entender... e realmente temos de tirar a lição. Nosso país carece de uma educação que grita por humanidade, aliás, o Mundo carece disso... Temos vivido muito dentro de nós mesmos e nos esquecemos do outro. Nossas mentes tem nos enganado a respeito de verdades. E nem sempre encontramos pessoas dispostas a "perder tempo" com o outro ajudando a sair de si mesmo. Que reflitamos sobre nossas atitudes, que devem ser altruísta ao invés de destrutivas.

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