Quantos delírios ao nosso lado...


É comum deperarmo-nos nos diversos ambientes e grupos sociais com pessoas que estão fazendo suas atividades sem saberem por que as fazem. Sou professor de filosofia e tenho constatado isso em alguns dos meus alunos, mas não somente na área da educação, mas na Família, nos ambientes de trabalho, na Faculdade, na opção religiosa, nos relacionamentos, inclusive no casamento. Essa ausência de sentido para com nossas escolhas, com aquilo que dedicamos nossas forças, é mesmo um contexto lamentável em nossos dias. Perder o sentido também é trágico. Acordar, comer, trabalhar, estudar, comprar, assistir a programação da TV, estar na internet, relacionar-se com os outros, usar o celular, ver o mundo e seus dramas, infelizmente, tudo parece tão mecânico na maioria das pessoas. A capacidade de assimilação dos valores e dos próprios limites vai sendo diminuída, consequentemente ficamos insensíveis às dores dos outros, aos que padecem ao nosso lado, aos que se isolam da vida e de todos. Da mesma forma as diferenças dos outros, as qualidades e fraquezas dos que convivem ao nosso lado parecem nos incomodar ao ponto que as vemos como empecilho até decidirmos bani-las da nossa visão interna e externa. Não saber as razões do que faço, não ter um norte, um sentido, uma motivação positiva para com os meus empreendimentos pessoais e coletivos é mesmo um grande perigo. Esse perigo será maior quando chegarem as decepções, as frustrações e perdas. Evidentemente, quando as consequências de uma falta de sentido se junta aos problemas psíquicos, a um distúrbio mental (por menor que seja) e não somos ajudados a tempo, podemos chegar ao extremo da barbárie como chegou o jovem Wellington Menezes, ao disparar mais de 60 projéteis contra crianças e adolescentes, Rio de janeiro, manhã do dia 07 de abril. Tudo de forma fria, premeditada, fruto de uma mente calculista, doente, vingativa, que processou suas ausências de forma velada. Como dizem os especialistas, analisando a situação: “Uma vida largada no mundo, transitando sozinha, desenvolvendo a doença, sem deixar que ninguém tivesse acesso”. Mas é verdade que nós estamos muito destreinados para o isolamento dos outros. Basta perceber os desconfortos que causam em nós uma pessoa chata, silenciosa demais, carrancuda, misteriosa, antipática, “feia”, suja, pobre, “negra”, temperamental. Ficamos “desesperados”, muitas vezes, quando a situação nos pede para quebrar o gelo – caridosamente - de alguém que incomoda de alguma forma. Mais fácil e prático é ignorar, nos enclausurar no nosso mundinho, nos nossos pequenos e seletos grupos de convivência. “As pessoas estão delirando ao nosso lado e a gente não está enxergando”, diz a educadora Bernadete Porto. É verdade, uma pessoa “calada ou que chama a atenção demais” pode ser uma forma de gritar por socorro, um sinal de que precisa de ajuda, ainda que não admita e não queira. Como lhe dar com as diferenças dos outros? Eis uma das perguntas mais importantes e não tão fácil de ser respondida nos nossos dias. Nossas ações, pensamentos e atitudes nunca foram tão complexos. Nunca tivemos tanto repúdio ao diferente. Nunca desrespeitamos tanto as opções dos outros. Também a nossa sensibilidade está à flor da pele, ao ponto que não dá nem tempo pedir desculpas ou perdão e logo vem a reação, a vingança, a violência, “as respostas prontas” que são processadas no imediatismo e não na assimilação de um coração e mente que enxerga “o outro como alguém que é parte de mim”, como falava João Paulo II. E em meio a isso existem as pessoas que ficam incomodadas com quem é alegre, feliz, realizado e encontrado. Até as pessoas felizes precisam entender que incomodam não só positivamente, mas negativamente. Isso deve servir para que tenham consciência que ser feliz é enxergar o outro e se comprometer com suas chagas, escutar os seus gritos e conectá-los à voz do coração e do amor de Deus. Saibamos transformar tudo em sentido de vida e, o mais importante, aprendamos a comunicá-lo aos outros, ajudando as pessoas a acreditarem que podem ser melhores ao se deixarem amar e aprenderem a amar.
Ant. Marcos – 09 de abril de 2011.

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