Vejo que és um profeta...

“(...) disseste bem, que não tens marido, pois tiveste cinco maridos, e o que tens agora não é o teu marido. Nisto falaste a verdade”. A mulher disse a Jesus: ‘Senhor, vejo que és um profeta!’’’ (Jo 4, 17-19).

O longo Evangelho deste 3º Domingo da Quaresma (Jo 4,5-42), que nos apresenta o sempre fascinante encontro e diálogo de Jesus com a Samaritana, no Poço de Jacó, nos proporciona fazer algumas meditações preciosas, sobretudo no tocante à Pessoa de Jesus como “a verdadeira fonte que sacia a nossa sede de felicidade”. A minha vem aqui expressa de forma breve, após ser meditada e associada à vida. Somente quando Jesus consegue entrar na intimidade daquela mulher, preparado delicadamente pelo diálogo anterior, é que a faz convencida de que Aquele homem era um profeta. Ninguém revela sua intimidade a quem não tem confiança, muito menos permite que se entre no coração quem não sabe respeitar o direito sagrado da intimidade dos outros. Há uma “sede pela água viva” em cada coração, proveniente das jornadas pessoais nos nossos desertos. Revelar esta sede a quem não tem água viva para nos dar pode ser oportunidade para a morte. Jesus pede água àquela mulher, mas sabe aonde quer chegar. Mais do que a água, Jesus queria o amor daquela mulher, porque Deus tem sede do homem. Jesus procura o pecador não para condená-lo, mas para salvá-lo, e para isso, - como é belo ver – é capaz de se humilhar, de passar como ridículo, quando sendo judeu decide pedir água a uma Samaritana. Lembrei das ocasiões nas quais me passei por ridículo para comunicar a salvação de Jesus Cristo aos outros, mas também lembro as minhas omissões por medo e timidez. Dentro daquela cultura tão legalista Jesus corria riscos toda hora para amar e salvar. Também aquela Samaritana correu riscos ao se permitir dialogar com um judeu, além do mais estranho. Mas, bendita coragem que lhe permitiu a salvação e a de muitos de sua cidade. Entrar na intimidade dos outros não é fácil, é delicado, exige que tenhamos água viva para dar, que é Deus, não nós mesmos, muito menos nossos saberes e julgamentos. Exige muita cautela nas nossas palavras e conclusões, e nunca esqueçamos que a intimidade dos outros é o que há de mais sagrado. Com esta intimidade nas mãos nós podemos levar o outro à salvação ou à condenação. Podemos proteger melhor ou difamar essa intimidade. Vejo que és um profeta... Vejo que és um homem de Deus, uma mulher de Deus e que tua intenção é unicamente de me amar e me salvar. Quisera Deus que as pessoas tivessem sempre essa conclusão de nós. Quantas vezes nos aproximamos dos outros e não estamos dispostos a dar a água vida, muito menos proteger a água viva do outro, a sua fé, seus valores, sua ingenuidade, sua reta intenção e pureza. Quantas vezes entramos na intimidade da dor e do sofrimento dos outros não para curar, mas para tirar vantagem, seja material ou espiritual, e assim acabamos deixando o outro a beber água ainda mais suja. “Senhor, vejo que és um profeta! Ajuda-me a proteger a intimidade dos outros, a respeitar a sacralidade de suas consciências, de seus segredos, de suas dores e alegrias. Ajuda-me a correr os riscos necessários para amar e salvar, não para destruir os outros e deixá-los distantes da água viva, da tua salvação! Dá-me a tua graça, Senhor.


Ant. Marcos – Quaresma 2011.

2 comentários:

  1. Nossa,que texto maravilhoso meu amigo. Palavas tão profundas que no finalda vontade de dizer: Palavra de Salvação! rs

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  2. Otima reflexão a luz do Evangelho amigo. As pessoas tem fome e sede de Deus. E onde estão os profetas? Poderão os sedentos reconherem? De fato, não se pode dar o que não se tem. Junto-me a você em oração: Dá-nos a graça Senhor de transbordamos o teu amor.

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