Amigo, sofre comigo...


Meditando a Liturgia da Palavra do 2º Domingo da Quaresma, debrucei-me sobre o sentido das palavras de Paulo a Timóteo (1,8-10): “Sofre comigo pelo Evangelho, fortificado pelo poder de Deus”. E pensei: se as palavras humanas, as nossas “linhas e reticências”, nos purificam, nos provam e nos levam, tantas vezes, ao cadinho da humilhação, muito mais as palavras do Evangelho. Esse sofrimento pelas coisas de Deus não é possível suportá-lo sozinhos, precisamos estar fortificados pelo próprio Deus. Perseverar nas palavras do Evangelho, não obstante nossas fraquezas, é ação da graça que requer um preço muito concreto. Não que a salvação seja negociada, pois ela já foi conquistada gratuitamente por Cristo na cruz com o preço do seu sangue. Entretanto, as coisas de Deus inevitavelmente nos expõem porque o Evangelho não pode ser escondido. O que é bom em nós tem força de conquista e atração. Quem de fato o encontrou é impelido a anunciá-lo! Mas também, quem o encontrou, não significa que nunca possa perdê-lo. Ainda quem teve a graça de “subir ao monte da transfiguração” (cf. Mt 17,1-9) não significa que lá na frente não venha a dizer “Eu não conheço este homem”.  Por isso o Salmista canta confiante não nas suas forças, mas na graça: “Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça, venha a vossa salvação!” (Sl 32/33). Esta salvação é a que suplicamos, de forma especial, neste Tempo da Quaresma: a salvação não para os salvos somente, mas, especialmente, para os perdidos, para os que sofrem tantas dores, para os que ficaram pelo caminho; suplicamos a salvação para os que não hesitam em pedir humildemente ao amigo: “Sofre comigo pelo Evangelho! Ajuda-me a não negá-lo por medo de minhas fraquezas, de meus pecados e por medo da humilhação!” “Levantai-vos, e não tenhais medo!” Não posso deixar de dizer que a meditação desses textos me fez ainda vislumbrar o quanto Deus se utiliza do homem, do “próximo”, para nos fazer chegar a sua salvação. Abraão, Paulo, Timóteo e os discípulos da Transfiguração são personagens de um desígnio, o desígnio de Deus que é Jesus Cristo. Tudo deve estar voltado para Ele. “Todos devemos escutá-Lo!” É nesse processo de “escuta de Deus” que podemos compreender quais terras precisamos abandonar, para qual devemos ir. É o processo de escuta de Deus que me fará ter a coragem humilde de dizer ao amigo: “sofre comigo pelo Evangelho!”. E a escuta fundamental vem das experiências consoladoras de “Transfiguração”, daí que a palavra de ordem final é: “Meu filho, eu te sustento. Levanta-te e desce o monte, sofre comigo pelo Evangelho e não tenhas medo das tuas fraquezas, apenas esteja disposto a sempre se colocar de pé e prosseguir!”. 

Ant. Marcos – 20 de março de 2011.  

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