Amigos: "Estrelas de Davi"...


O Salmo que antecede as Vésperas do Santo Natal do Senhor assim reza: “Mostrai-nos, ó Senhor, vossos caminhos e fazei-me conhecer a vossa estrada! Vossa verdade me oriente e me conduza, porque sois o Deus da minha salvação” (Sl 24/25).  Durante este ano de 2011, conversando com os amigos e amigas, pessoalmente ou pela internet, tenho escutado deles sempre o mesmo desejo: “quero a vontade de Deus!”. Muitos me deram notícias de suas decisões, de suas novas escolhas, de mudanças de percurso, de retorno à luz, de superação de desafios, de encontros e convivências felizes, de redescoberta da vocação, do florescer do amor, da amizade, da esperança, ou mesmo do recompor-se dos seus próprios pedaços... Coisas que nos alegram, sinceramente. Detalhes que constituem os melhores propósitos. Porém, sempre acompanhadas dos mesmos pedidos: “Por favor, amigo, reze por mim!”. O interessante, ou o misterioso, é que nem sempre eu me encontrava bem e me via precisando tanto pedir oração, mas antes que isto acontecesse a outra pessoa se adiantava a dizer: “Amigo, irmão, você é uma pessoa que me estimula ao ânimo, ao recomeço, a prosseguir, a não desistir, por isso reze por mim!”. E a gente vai compreendendo que não vive os desafios sozinhos, mas com os outros irmãos, estejam pertos ou distantes. A primeira forma de ajudar os outros é rezando por eles. A oração nos prepara para as atitudes sensatas e as ações concretas buscando o bem do outro, não a nossa glória. A comunhão da fé, a caridade fraterna e a amizade nos tornam unidos nas alegrias e nas dores. Pois bem, esta tão necessária vontade de Deus não é mesmo fruto de nossos planos, mas de uma revelação, de uma intimidade, de um deixar-se conduzir pela graça de Deus, pelo Espírito Santo. Os amigos e os irmãos são preciosos instrumentos, mas são “apenas instrumentos”, e felizes os que os têm. De fato, como é consolador você ter a quem confiar suas partilhas, seus pedidos, seu coração, seus anseios e procuras pela felicidade, no entanto, nada se compara à descoberta por experiência pessoal do que Deus quer para nós, ainda que para isso tenhamos que passar por duras provas, perdas e noites escuras. Tenho visto e escutado muita gente sofrida e ferida por causa de desorientações e confusões provindas de outras pessoas, sobretudo de seus juízos não comprometidos com o bem e a salvaguarda da imagem dos outros. A Palavra de Deus faz um dos mais importantes pedidos para o coração do homem: Senhor, “Vossa verdade me oriente e me conduza, porque sois o Deus da minha salvação”. Aquela estrela de Davi obstinou alguns homens a não desistirem de procurar o lugar do nascimento de Jesus. Penso que os amigos e os irmãos autênticos são como “estrelas de Davi”, obstinam-nos a prosseguir, a recomeçar sempre! Mas quando nós encontramos o Menino, quando adentramos naquela fenda de misericórdia e olhamos nos seus olhos e constatamos a “loucura do Amor que desce para nos elevar”, logo concluímos: “Senhor, Tu és o Deus da minha salvação”. Tudo pode acontecer, fatos e pessoas podem passar, mas que nunca passe na minha vida esta certeza e experiência: não há felicidade se não aqui, junto do presépio, unindo a minha miséria à misericórdia. Eterna gratidão aos que nos ajudam cada dia, em meio às nossas desorientações, a encontrar a gruta de Belém.

Ant. Marcos  

O coração naquilo que permanece...



"Aproveite-nos, ó Deus, a participação nos vossos mistérios. Fazei que eles nos ajudem a amar desde agora o que é do céu e, caminhando entre as coisas que passam, abraçar as que não passam" (Oração depois da Comunhão - I Dom. do Advento, Ano B). Sempre amei demais esta linda e forte oração própria do Tempo do Advento. Tenho por este tempo uma grande admiração, porque me ajuda a voltar à consciência de que minha vida precisa ser de esperança, sobretudo na minha conversão. Sim, eu espero amar mais, espero ser santo, a reconciliação com os que ofendi e me ofenderam; espero ser mais útil às pessoas e respeitar seus sentimentos e escolhas; espero ser instrumento e ponte para que o Evangelho chegue aos outros; espero o encontro, a partida, o recomeço, a obra nova das maravilhas de Deus; espero que o mundo seja melhor, que as pessoas sejam mais toleráveis e pacientes; espero a valorização da Família, do Matrimônio, do Sacerdócio; espero a conversão dos meus, o encontro dos corações, a prevalência da verdade sobre toda mentira, da transparência sobre toda falsidade; Espero a Unidade na Igreja, espero através da Igreja que a comunhão seja cada dia possível. Espero o Natal, espero Jesus, espero os mais pobres, os que sofrem, os que desacreditaram de tudo e de todos... Espero com fé, espero na alegria cristã. É tempo de Advento e meu coração se renova. "Ó vem, Senhor, não tardes mais, vem saciar a nossa sede de paz!" Ensina-me a "caminhar entre as coisas que passam, abraçando as que não passam!" Maria, Mãezinha, Virgem da Esperança, intercedas por nós e nos ajude a colocar sempre o coração naquilo que permanece, sem deixar de viver bem o que hoje nos exige doação de vida.

Feliz Tempo do Advento para todos os amigos e amigas deste espaço de fé!
Ant. Marcos

Um lugar ao Sol...



“Cresce tudo que se planta sob a luz do eterno Sol...”. Lembrava-me nesses dias desta letra que tem uma bonita melodia. Uma canção litúrgica que ficou bem conhecida por expressar no ofertório a dança da vida, ou seja, o movimento do doar-se a Deus com tudo o que temos e somos, reconhecendo que o fruto do labor é transformado no mistério de Deus, torna-se eucaristia. Ele opera em nós a gratuidade do Seu amor, da dança da misericórdia para conosco, pobres pecadores. Sim, cresce tudo que se planta sob a luz do eterno Sol, inclusive o perdão, a reconciliação. Nascer de novo, brotar, crescer é uma necessidade aqui dentro de mim. Vejo os movimentos da terra, sinto as transformações..., a vida tem necessidade de evoluir para o bem, para a conversão, para o cultivo de tudo o que edifica. Por isso é que me exponho a esta luz, a este Sol. Um lugar ao sol, “não como réu”, mas como filho, é o que neste tempo peço a Deus.  

Ant. Marcos

Escrever: diálogo com os sonhos e esperanças...



Minhas primeiras linhas nasceram com a necessidade de expressar os movimentos do meu coração, fossem alegres ou dolorosos. Escrever era uma forma de dialogar comigo mesmo, com meus sonhos e esperanças. Papéis que foram escritos somente para mim, em dias de escombros ou de grandes alegrias. Papéis que se perderam com o tempo, outros que ainda permanecem em mãos, ainda que estejam amarelados e quase sem visibilidade. Assim se desenvolveu um talento, o qual considero tão limitado, mas, sei que Deus tem se utilizado dele para levar um pouco de luz e esperança para muitas pessoas, o que me enche de gratidão. Tudo é graça! Escrever é mais que "erudição", mas uma arte do coração e da alma, uma escola de amor e aprendizado, de purificação, descobertas e saltos maravilhosos. Nunca desejei que minhas linhas fossem "públicas", apenas escrevia para os amigos e já era tudo. Foram eles, na percepção do dom, que insistiram para que essas linhas chegassem aos outros. Resolvi escutá-los, tarefa indispensável para quem escreve. Escrevo partilhas, falo sempre na perspectiva da fé porque quero servir ao Evangelho com o muito que Deus me concedeu. "É a tua face, Senhor, que eu procuro!" (Sl 27,8).

Ant. Marcos

Flores entre as rochas...


Fui ao Cemitério rezar pelos meus parentes falecidos e participar da Santa Missa. Sentei próximo à lápide e fiquei em silêncio, pensando na vida, pensando no céu, pensando nos que eu amava e se foram. A partida, a distância, o tempo, a saudade. E lembrei tanto da vida de Jesus, do seu encontro com aquele cortejo de Naim, com Marta e Maria diante da morte de seu amigo Lázaro. Pensei naquela sexta-feira em que disse: "Pai, em tuas mãos entrego meu espírito!" Pensei no Seu encontro com Adão e Eva, e naquela manhã de Domingo: "Já não chores, Jerusalém, a alegria voltou, teu Senhor está vivo! Ele ressuscitou!" Obrigado, Senhor, a morte não teve a última palavra e nunca terá para quem acredita no Teu nome. Flores entre as rochas, vida nova! Tua vida, Senhor, vencendo nossas mortes. Cidadãos do Céu! Estrangeiros aqui, somos todos!

Ant. Marcos

Aproveite as oportunidades...



Algumas vezes tenho me encontrado pensando nos caminhos providenciais de Deus para com a minha vida. Caminhos estes que incluem, sem dúvida, as relações fraternas, os encontros e amizades. São experiências que têm imprimido em mim como que marcas indeléveis, possibilitando as linhas escritas de uma história vivida, construída. Pessoas que se achegam e “armam suas tendas” no meio de nós, ou melhor, dentro de nós. Dão-nos sombra e descanso. Depois precisam seguir adiante, porém levam consigo muito de nós ou pouco, talvez, mas levam sempre alguma coisa, o que não as obrigam a voltar, apenas de serem melhores. É o que Jean Vannier (fundador da Comunidade ARCA, que tem a missão de trabalhar com as pessoas com Síndrome de DOWN) disse um dia a um de seus filhos, após interrogá-lo desta forma: “Meu pai, por que as pessoas a quem passamos a amar precisam ir embora?” Falava ele dos missionários que eram transferidos depois de um tempo de convivência. Respondeu-lhe Jean Vannier: “Meu caro filho, o amor é assim! Nunca aprendemos a amar para nós mesmos, mas para que primeiramente os outros sejam felizes. Nossa felicidade consiste em deixar que eles partam para que façam com que outros aprendam a amar como nós aprendemos com eles. Esse deixar a quem amamos partir já é um autêntico amar, um gesto profundo de evangelização porque é partilha, é esquecimento de si, é morte do egoísmo. Agora você tem que fazer o mesmo: amar e ensinar outros que estão perto de você a amarem!" Não é fácil perder, desprender-se, despojar-se. Mais doloroso ainda é termos aquela sensação de que alguém que nos queria bem parece não ter a mesma estima e entusiasmo para conosco. Não obstante estes fatos serem inevitáveis, não podemos esquecer que temos uma identidade, um valor, um rosto, um coração que é capaz de amar, de ressignificar as perdas e recomeçar sempre. Tem gente do nosso lado, no nosso convívio, na nossa teia de relações que precisa do nosso amor e cuidado. E as pessoas precisam de tão pouco para serem felizes, desde que seja “um pouco de muito amor”, como diz a canção. Que a nossa única dívida para com os outros, segundo o apóstolo Paulo, seja a dívida do amor. E este amor não é fabricação nossa, mas é dom, tem um rosto, é Jesus amando em nós. Por isso, tenho dito a mim mesmo cada novo dia: “Seja grato a Deus por cada detalhe e aproveite as oportunidades deste dia para amar e fazer os outros um pouco mais felizes”.

Ant. Marcos – outubro de 2011